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...Ela chega aqui perguntando onde estão todos , muitas vezes me tirando a paciência , tem no rosto rugas que traçam todo o seu passado sofrido de uma família desustruturada , sua infância na bolívia vivida num abrigo , longe de sua irmã gêmea e do resto dos irmãos . Sabe pouco sobre seu pai , sobre sua mãe conhece só a rigidiz e o trabalho dela de colocar mais gente no mundo. Mais tarde com 16 anos retorna , e da cidade vai pro mato , passando a maior parte dos dias sozinha com sua primeira filha , dos outros 5 que viriam , sozinha porque o homem com quem casara trabalhava durante todo o dia. Na época dela se casava cedo. O lugar era no meio do nada , não havia vizinhos ela lembra de uma criatura que rodeava a casa , não sabe definir ''parecia um macaco , morria de medo cada vez que ele aparecia '' . ''Meu deus, eu sofri demais , minha filha , não era fácil '' (...)

Dessa mulher sei , por que pergunto muito , minha curiosidade é imensa.
Foi ela quem me ensinou a fazer arroz e é com ela que sei mais sobre minha mãe , ela me diz que devo estudar e ser mais do que todos , porque minha mãe batalhou demais , '' ela ia doente pra aula , a pé na lama , não faltava de jeito nenhum '' . Ela me faz segurar o choro toda vez que conversamos .
Ela é a Maria José , a dona Lélé , a minha avó.
'' ahh é '' , ''justamente '' , ''pois é''.

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dá pitaco

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eu tenho verdadeira paixão por flores em imagens.

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De manhã eu senti o cheiro da escola Santa Cecília, onde minha mãe dava aulas quando eu e a minha irmã éramos crianças de 5 , 7 anos.Eu ainda não sei porque, mas era uma cheiro de cantina,sopa,bolacha, que ficava empregnado na madeira velha do assoalho, das paredes,das cadeiras de madeira das salas de aula.Os papéis de prova e livros da minha mãe cheiravam a giz e esse cheiro de escola Santa Cecília, que não sei se vinha da cantina, da sopa, do giz do quadro negro,da bolacha,das paredes de madeira úmida,só sei que tinha um cheiro que minha memória relembrou hoje, cheiro de infância, cheiro da coragem que minha mãe tinha em ir pr'alí, pra fazer o que hoje ela tem saudade, ensinar história.
Hoje fiquei um bom tempo olhando pra vinha, aquele campo verde, aquela casa cheia de janelas. No entardecer triste, triste como todo entardecer.Enquanto nuvens rosas corriam no céu, me surpreendo com um pensamento, ele dizia baixinho quase ecoando  : " eu não existo aqui, uma parte de mim não existe aqui " o vento em silêncio arrastava nuvens, pássaros sibilavam longe, aquele verde e cor triste da tarde, triste como todo entardecer.